Você tem dificuldade de escolher o tecido que vai usar para costurar uma roupa? Já fiquei horas e horas pensando no que comprar para confeccionar aquele modelo tal, algumas vezes por causa da cor ou da estampa, mas muitas vezes por não saber que tipo de tecido comprar. Escrevi este pequeno guia mostrando o que é importante levar em consideração antes de escolher. Com a prática, você já vai fazer esse caminho quase que automaticamente.
Tipo de roupa
Primeiro, você tem que saber que tipo de roupa vai fazer. Divido esta parte em três – estação, período e ocasião.
Estação
Decida em que estação vai usar a roupa. Isso é importante, primeiramente, para poder escolher tecidos mais quentes ou mais frescos. Os tecidos ótimos para o verão são tecidos leves feitos de algodão, viscose, seda e linho – sugiro tricolines, cambraias, voil, gaze, crepe georgette, sarja de algodão e cetim de algodão. Esses tecidos são fresquinhos porque suas fibras absorvem bem o suor e permitem a passagem do ar, além de seus fios serem finos e a trama leve.
Para o inverno, o ideal são tecidos mais quentes e com trama mais pesada. As melhores fibras para isso são as lãs, e até o algodão. Mesclas dessas fibras e as sintéticas equivalentes, como acrílico e poliéster, também são ótimas. Todas essas, quando em fios mais espessos, ou tramadas em sarja, seguram o calor do corpo. Alguns tecidos invernais são lã, tricô, veludo, boucle, tweed, crepes pesados, flanela de algodão ou lã.
Mas não é só isso que importa na escolha de tecidos de acordo com a estação: a aparência do tecido também faz diferença. Normalmente, estampas de flores e frutas em cores pastéis são adequadas para climas quentes, enquanto que cores mais escuras são vistas como invernais, por exemplo. É claro que isso vai depender das tendências de moda e também de como essas cores são combinadas com outras que podem equilibrá-las.
Período
À medida que escurece o dia, o tipo de roupa adequado muda. Não apenas as cores, mas também o acabamento dos tecidos. Com o dia, combinam cores mais claras e vivas, em tecidos de fibras naturais, rústicas, opacas ou com brilho leve. Para a noite, podemos usar cores mais escuras e fechadas, em tecidos com brilho e também transparências.
Ocasião
Vai usar a roupa para o trabalho, para passear, para festas? Dependendo da ocasião, o tecido deve ter uma aparência diferente. Para festas, você pode escolher transparências, brilhos, paetês, rendas e bordados, e deve evitar tecidos rústicos e casuais. Os mais usados são: cetim, crepe georgette, crepe chanel, chiffon, musseline, organza, renda, shantung, tafetá, brocado. Já para o trabalho, normalmente não deve usar esses tecidos de festa. Escolha tecidos de alfaiataria como lã fria e tropical, ou mesmo a sarja acetinada, que tem um brilho sutil, além de tecidos de inverno como lã, crepes pesados, tweed e boucle. Usar o crepe chanel do avesso, neste caso, funciona muito bem! Para blusas e camisas, use tecidos como tricoline, tricoline acetinado e cambraia.
Modelo
Esta é a parte que considero a mais importante na escolha, pois o caimento do tecido influencia diretamente no resultado da costura. Para chegar ao modelo escolhido, o tecido deve ter as características ideais que o modelo exige. Se o modelo é estruturado, o tecido escolhido deve ter mais corpo e ser um pouco rígido. Se o modelo é esvoaçante, o tecido tem que ser leve e fluido. Em suma, o modelo vai refletir as características do tecido com o qual foi feito, então escolha um tecido que permitirá que as características principais do modelo aflorem. Um bom teste para fazer é desenrolar uma boa parte do tecido, na loja mesmo, e segurá-lo por uma ponta para observar o caimento.
Muitas vezes, o caimento do tecido também pode ser alterado com uso de entretelas. É o que acontece em corsets, alguns vestidos de festa e roupas de alfaiataria, por exemplo. Para testar o caimento nesses casos, sobreponha o tecido à entretela e deixe-os cair sobre a mão ou os ombros.
Quando você costura com moldes de revista, isso fica mais fácil, já que na própria revista são sugeridos os tecidos ideais. Se você não tem essa informação, ou está fazendo um molde próprio, uma boa maneira de descobrir é pesquisar lojas de roupa online. Lá você procura modelos parecidos com o seu, e com o caimento que você quer. Quando encontrar, procure na descrição do produto o nome do tecido, e aí você já tem uma ideia do que vai funcionar. As imagens de vestidos que usei como exemplo são do site da Modateca, que também é uma ótima fonte de pesquisa.
O caimento do tecido não depende apenas do peso. Depende também da trama, que vai determinar a fluidez com que ele cai. Outro fator determinante é o acabamento que ele recebeu depois de ser tramado – tecidos encerados ou engomados, por exemplo, ficam mais rígidos e menos fluidos. Visto isso, nem todos os tecidos leves são fluidos, e nem todos os tecidos pesados são rígidos. Classifico os tecidos pelo caimento da seguinte maneira (a lista contém alguns exemplos de cada tipo, e claro que cada tecido individualmente pode apresentar variações):
- leves + fluidos: musseline, crepe georgette, chiffon, gaze, cetim, javanesa, cambraia, tricoline sem goma, morim sem goma.
- leves + firmes: organza, organdi, failette, tricoline engomado, morim engomado.
- médios + fluidos: chamoix, cetim grosso, crepe chanel, flanela, crepe de lã, lã fria.
- médios + firmes: brim, piquet, sarja acetinada, shantung, tafetá.
- pesados + fluidos: boucle, tweed, alguns tipos de veludo e de lã, tricô.
- pesados + firmes: brocado, cotelê, gorgurão, jacquard, lona, alguns tipos de veludo e de lã.
Na prática, esses tecidos mais firmes são mais volumosos que seus equivalentes em peso fluidos. Se for fazer uma saia franzida com cada um deles, por exemplo, os mais firmes ficariam mais armados. Já se o seu objetivo é uma saia volumosa e usar um tecido mais fluido, pode não conseguir esse efeito. Em muitos casos, uma mesma peça de roupa pode ser feita em tecido fluido assim como em tecido firme, e o efeito será bonito nos dois casos, mas diferente.
Segue um guia relacionando peso do tecido e tipo de roupa para nortear sua pesquisa:
- leves: blusas e camisas, vestidos soltos, vestidos franzidos, vestidos esvoaçantes, vestidos transparentes.
- médios: saias, calças, vestidos ajustados, vestidos estruturados, vestidos com pregas ou franzidos, vestidos estilo alfaiataria, blazer e tailleur, vestidos de festa, jaquetas.
- pesados: saias, blazer e tailleur, casacos pesados, jaquetas, vestidos ajustados, vestidos estruturados, vestidos armados com volume dramático.
Nível de prática
Se você é iniciante, lembre-se de escolher tecidos mais fáceis de costurar para evitar frustrar-se com a máquina muito cedo. Quando estiver mais confortável, pode começar a treinar com tecidos mais difíceis, como o cetim e o crepe georgette. Escolha um modelo simples, com costuras retas, de preferência.
Os tecidos leves e fluidos costumam ser difíceis de costurar e de cortar, pois são escorregadios e instáveis. Outro tecido que iniciantes devem evitar é o tafetá, pois fica marcado pelos furos da agulha, e quando precisar desmanchar uma costura, a marca do furo é evidente. Os veludos exigem cuidados especiais para não marcar os pêlos, portanto também devem ser evitados no começo. Sempre que estiver na dúvida, faça um teste com um retalho antes, para garantir!
A maioria dos outros tecidos são mais fáceis de costurar, mas cada um tem suas particularidades, então não deixe de pesquisar e testar: como preparar, costurar e passar o tecido.
Orçamento
O preço por metro de tecido pode variar de alguns reais a algumas centenas de reais. Claro que os extremos não são equivalentes nem em qualidade nem em tipo, mas mesmo assim há uma grande variação de preço entre as opções de tecidos apropriados para seu projeto. Se você quer economizar um pouquinho, procure versões sintéticas do tecido que escolheu, ou misturas. Um crepe georgette de seda sem estampa, por exemplo, pode custar até 90 reais o metro, enquanto que a versão em poliéster custa menos de 20. (esses são preços que vi na minha cidade, e podem variar dependendo de onde você estiver)
Outra fibra muito cara é a lã, que pode ser substituída ou misturada com poliéster. Uma versão mais barata do linho é o rami, e a mistura de linho com viscose – que por serem naturais não prejudicam o frescor do linho! A única fibra que não recomendo substituir por sintética é o algodão, a não ser que seja por fibras tecnológicas. As fibras sintéticas normalmente não absorvem o suor, mas as tecnológicas são, muitas vezes, a melhor opção para roupas esportivas, pois fazem esse trabalho muito bem. Mas aí provavelmente não será mais barata..
Mais uma dica para iniciantes: não exagerem no preço do tecido, pois no começo, muita coisa que costuramos vai para o lixo, ou fica no armário e não temos coragem de usar…
Conclusão
Acredito que o resto das decisões fica por conta do estilo e gosto de cada um. Os exemplos citados não são uma lista completa, servem apenas para dar uma ideia do tipo de tecido adequado.
Para facilitar a escolha, faça uma tabela, e ao passar por cada parte do texto, sugiro que anote as opções de tecidos mais adequadas de acordo com cada critério, usando uma coluna para cada critério, com exceção de “Nível de prática” e “Orçamento”. Depois, selecione os tecidos que mais aparecem e que estão de acordo com os critérios ideais para o seu modelo. Risque fora os que estiverem além das suas habilidades. Aí já vai ter diminuído o número de opções. Separe esses nomes e faça uma lista. Quando for à loja de tecidos, peça para ver todos e escolha o que mais lhe agradar. Se ainda não estiver satisfeito, pode pedir à vendedora que mostre mais tecidos desse tipo.
Espero que este guia seja útil para vocês, e os ajude a fazer roupas cada vez melhores e mais bonitas! Se gostou do artigo, recomende a amigos e colegas que também possam gostar. Obrigada!
Créditos: As imagens de roupas foram cedidas por José Alfredo Beirão Filho, e fazem parte do site da Modateca. Os vestidos fazem parte do acervo da Modateca, e foram fotografados por Adriana Füchter.
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